O ministro do STF Alexandre de Moraes, relator da chamada trama golpista dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, fez uma intervenção durante o voto da ministra Cármen Lúcia, nesta quinta-feira, para rebater o entendimento do ministro Luiz Fux sobre o crime de organização criminosa.
Moraes afirmou que os ataques de 8 de janeiro não foram obra de “baderneiros descoordenados”, como insinuou Fux na sessão desta quarta-feira, ao se referir aos ataques de “black blocks” em 2013, para sustentar sua tese de que a ação não configurava uma conspiração de Estado.
“Não foi um domingo no parque. Não foi um passeio na Disney né? Foi uma tentativa de golpe de estado. Não foi combustão espontânea. Não foram baderneiros descordenados ao som do flautista, todos fizeram fila e destruíram a sede dos três poderes”.
Segundo o ministro, a PGR identificou diferentes núcleos de atuação com funções definidas, liderados por uma figura central.
“Essa organização criminosa, liderada por Jair Messias Bolsonaro, tentou simplesmente se apoderar do Estado, com o discurso de desnaturar a questão democrática. Democrática no sentido de deslegitimar as urnas, fraude-eleição. Essa organização criminosa queria calar o judiciário, o sistema de freios e contrapesos, o Estado democrático de direito, e ao mesmo tempo se perpetuar no poder, independentemente de eleições.”
Em seguida, Moraes exibiu um vídeo em que o ex-presidente Jair Bolsonaro o ataca diretamente em ato na Avenida Paulista. Na gravação, Bolsonaro afirma que Moraes deveria “se enquadrar”, ou seja, se alinhar ao ex-presidente, ou “pedir para sair” do Supremo, o que foi classificado como uma ameaça explícita ao Judiciário.
“Se eu arquivasse, se eu curvasse a cabeça e covardemente aceitasse e passasse para outro relator, amanhã seria o outro relator, ou seja, um crime não contra o Alexandre de Moraes, um crime contra o Estado Democrático de Direito, um dos poderes, o Poder Judiciário.”
O ministro também citou o perigo das reuniões dos kids pretos, grupo militar que planejava assassinatos contra ministros e autoridades democraticamente eleitas. Para Moraes, o grupo não hesitaria em recorrer a violência extrema para atingir seus objetivos.