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Megaoperação revela elo entre PCC, setor de combustíveis e mercado financeiro da Faria Lima

por: Jhulie Pinho

Uma megaoperação deflagrada nesta quinta-feira (28/8) pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo, em parceria com a Receita Federal, revelou um esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis que envolve integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e operadores ligados ao centro financeiro da Faria Lima, em São Paulo.

O principal alvo da ação é o empresário Mohamad Hussein Mourad, apontado como o cérebro por trás de uma rede criminosa que atua desde a importação até a comercialização final de combustíveis adulterados. Mourad já vinha sendo investigado por suspeitas de envolvimento com o crime organizado e, segundo os promotores, ele e seu braço direito, Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”, operavam um verdadeiro ecossistema de fraudes estruturadas em empresas do setor energético e financeiro.

Esquema envolvia empresas, fintechs, fundos e contadores

Ambos estariam à frente das empresas Copape, responsável pela formulação de combustíveis, e Aster, uma distribuidora utilizada no esquema para sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e outras irregularidades. Juntas, as duas empresas seriam peças-chave no esquema que envolvia também fintechs, fundos de investimento e uma rede de profissionais cooptados — incluindo contadores, empresários e operadores do mercado financeiro.

Entre os alvos da operação, estão:

  • Marcelo Dias de Moraes, presidente da fintech Bankrow Instituição de Pagamento, apontada como peça central na movimentação de recursos ilícitos;

  • Camila Cristina de Moura Silva/Caron, diretora financeira da fintech BK, considerada um “banco paralelo” do grupo e que teria ligações diretas com a Bankrow;

  • Valdemar de Bortoli Júnior, associado a distribuidoras como Rede Sol Fuel e Duvale;

  • José Carlos Gonçalves, conhecido como “Alemão”, com ligação direta com o PCC;

  • Lucas Tomé Assunção, contador da GGX Global Participações, controladora de mais de 100 postos de combustíveis, além de ter vínculos com a Usina Sucroalcooleira Itajobi;

  • Marcello Ognibene da Costa Batista, contador envolvido em diversas empresas com indícios de irregularidades societárias.

Fraude começava na importação de metanol

Segundo a investigação, o esquema tinha início na importação ilegal de metanol, produto que entrava no país pelo Porto de Paranaguá (PR). O material deveria ser destinado à indústria química e de biodiesel, mas era desviado e distribuído a postos de combustíveis, onde a gasolina era adulterada antes de ser vendida ao consumidor.

A operação revelou ainda a existência de um núcleo de logística, responsável pela frota de caminhões usados no transporte clandestino do metanol e da gasolina adulterada, e um núcleo de postos, composto por estabelecimentos comprados — muitas vezes à força — por integrantes da facção criminosa. Em alguns casos, donos de postos que venderam seus negócios ao grupo sequer receberam o pagamento e foram ameaçados de morte caso tentassem cobrar.

R$ 30 bilhões em fundos para ocultar patrimônio

Um dos braços mais sofisticados do esquema estava no mercado financeiro. O grupo teria utilizado pelo menos 40 fundos de investimento, com um volume de R$ 30 bilhões, para ocultar e blindar o patrimônio dos envolvidos. Esses fundos eram administrados por operadores atuantes na região da Faria Lima, considerada o coração financeiro do Brasil.

Operação nacional

A ofensiva mobilizou centenas de agentes públicos e cumpriu mandados de prisão, busca e apreensão em oito estados: São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Ao todo, cerca de 350 pessoas físicas e jurídicas estão sendo investigadas.

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