As defesas apenas tentam afastar os réus dos fatos apontados na denúncia contra o Núcleo 1 da trama golpista, mas não negam crimes, avalia especialista. O professor da FGV Direito de São SP, Rubens Glezer, avalia que as defesas tentam empurrar as responsabilidades para os outros.
“Todas elas tentam deslocar então a responsabilidade por esses fatos, pela tentativa de golpe, para outras pessoas. E acho que, então, muitos deles vão tentar deslocar para o Bolsonaro. O Bolsonaro vai tentar deslocar para as pessoas que estão à sua volta. Você também tem uma outra linha importante, que é tentar descredibilizar a delação do Mauro Cid.”
Isso ficou evidente, segundo o professor, durante as sustentações orais das defesas dos oito acusados – entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro – no julgamento da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta semana.
Ministra Cármen Lúcia

STF realiza o segundo dia do julgamento da trama golpista, por Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Chamou a atenção quando a ministra Cármen Lúcia questionou o advogado Andrew Farias, que afirmou que o ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira teria tentado afastar o ex-presidente Jair Bolsonaro do plano de golpe.
“Vossa Senhoria, eu copiei aqui cinco vezes, disse que o réu, neste caso, o cliente de Vossa Senhoria, ‘estava atuando para demover o presidente da República’. Demover de quê? Porque até agora todo mundo disse que ninguém pensou nada”, perguntou a ministra.
“Claro, claramente, Vossa Excelência: demover de adotar qualquer medida de exceção”, respondeu o defensor.
Contradições no julgamento
Essa tese reconhece a existência do plano, o que vai contra a linha das outras defesas. Contradições são comuns em julgamentos com muitos réus, diz o professor Rubens Glezer
“Cada um ali tá tentando salvar o seu cliente, na esperança de que o Tribunal reconheça que nem todos participaram ou nem todos participaram na mesma medida, reconhecendo a responsabilidade de um ou de alguns, mas não do seu próprio cliente.”
Rubens Glezer diz que os advogados miraram os ministros Cristiano Zanin e Luiz Fux para tentar nulidade ou mudança na aplicação das penas para os crimes de abolição do estado democrático de Direito e golpe de estado. A ideia é que apenas uma seja aplicada, o que permitiria um recurso. Já a absolvição é mais difícil.
“Diante das provas, diante da situação da condução do processo, parece improvável, mas a gente só vai ter esse tom realmente do que vai acontecer semana que vem. Eu não teria essa segurança de um jogo jogado.”
A votação dos ministros no julgamento do Núcleo 1 acontece a partir da próxima terça-feira (9).